A PROCURA DE SENTIDO
- evoluapsicologia
- 14 de abr. de 2016
- 4 min de leitura
“Não se trata de saber porque é que somos livres, mas quais são os caminhos da liberdade.” (Jean-Paul Sartre)
A vida é concebida, nessa perspectiva, como uma tarefa ou um dever, no qual cada ser humano é confrontado com uma ação específica no mundo, pela qual ele se torna único e insubstituível (Frankl). O fato de que o homem possui a consciência de suas possibilidades de vir a ser no mundo e de que o mesmo se encontra inserido na contingência da temporalidade pode gerar angústia diante da sua finitude. Dessa forma, “a vontade de sentido é o motivo fundamental da existência humana. É o motivo antropológico sui generis” (Böschemeyer). A necessidade do ser humano de buscar, encontrar um sentido para sua vida, é compreendido como vontade de sentido, o que seria uma tendência natural do ser humano para procurar uma finalidade para sua existência (Lukas). O homem não procura a felicidade como um fim e sim um motivo para ser feliz, posto que apenas por conseqüência adicional surgirá então a felicidade. Vale salientar que ter um sentido não só gera felicidade, mas também torna o homem apto para o sofrimento. A busca de sentido constitui a tensão existencial entre o “ser” e o “dever-ser” que é imprescindível para a saúde mental (Frankl). A ausência dessa tensão, ou seja, o ócio, é potencialmente patológico gerador do vazio existencial, faz surgir a vontade de encontrar um sentido para a existência. Dessa forma, a humanidade permanece entre os dois extremos da angústia e do tédio, pois, sem saber exatamente o que deseja fazer, acaba por manifestar um vazio existencial, caracterizado principalmente pelo tédio.
Nesse contexto, pode-se entender que a ansiedade é uma das grandes ameaças do ser humano. As pessoas tornam-se angustiadas e experimentam uma sensação de pavor diante de uma situação que elas não controlam, isto é, tais indivíduos estão sujeitos a um perigo que ameaça sua própria existência (May). Autores como Wong, Reker e Gesser, costumam diferenciar o medo da morte da ansiedade da morte, considerando o primeiro como mais específico e consciente, enquanto o segundo seria mais generalizado e inacessível. O medo e a ansiedade podem levar o homem à morte a partir do momento em que lhe causam uma ameaça. A ameaça posta ao indivíduo dessa forma faz com que este não veja outra maneira de enfrentá-la a não ser abdicando da sua própria existência (May). Por outro lado, a ansiedade decorre da consciência humana de que é um ser que se defronta com o não-ser. O não-ser é aquilo que destrói o ser, por exemplo, a morte, a doença grave, a hostilidade pessoal, ou seja, a ansiedade é a reação quando uma pessoa enfrenta qualquer destruição da sua existência (May). Entretanto, esse medo pode ser agravado quando o ser humano é acometido por questões existenciais.
As perturbações mentais são encaradas apenas como um dos aspectos que, entre outros, se integra na totalidade da existência do indivíduo, aparecem como expressões parciais das modalidades de construção do seu-mundo. São, portanto, um modo de existir que, além disto, constituem uma possibilidade humana universal. A ansiedade patológica resultaria do indivíduo não se confrontar com a ansiedade normal, a que deriva da falta de sentido da vida é complexa e pode relacionar-se simultaneamente com fatores de diversas naturezas, como: culturais; sociais; e psicológicos. Do ponto de vista cultural, o predomínio do “aqui-e-agora” que caracteriza a chamada pós- -modernidade vista como era do vazio por Lipovetskyva do confronto com os dados da existência. Do ponto de vista social importa considerar as dinâmicas sociais de consumismo e de desvinculação do indivíduo em relação ao grupo, bem como a tendência para a perda dos vínculos face a face, que as novas tecnologias de comunicação virtual também reforçam. Resulta facilmente um esvaziamento do estar com um vazio intersubjetivo. Finalmente, do ponto de vista psicológico, salientam-se o predomínio da ideologia individualista e a chamada cultura do narcisismo que se associam facilmente a um agir auto-centrado cuja finalidade é a valorização do Eu na satisfação imediata centrada em relações interpessoais utilitárias e que limitam a transcendência pessoal no compromisso profundo com os outros e consigo próprio nos projetos significativos a longo prazo.
O Homem é, como se sabe, um ser em mudança e transformação permanente, que vive uma existência finita e caracterizada por capacidades e fragilidades pessoais, bem como por oportunidades e limitações criadas pelo meio. Assim, é necessário abordar em conjunto essa situação existencial e explorar o significado e o valor de aprender a viver de forma mais autêntica, isto é, mais de acordo com os seus próprios ideais, prioridades e valores. Viver de forma mais autêntica significa ser verdadeiro em relação a si próprio e coerente com as suas próprias possibilidades e limitações, criando de forma contínua e deliberadamente a sua identidade mesmo em confronto com as incertezas do futuro.
A finalidade de buscar auxílio psicológico é a de facilitar o encontro do sujeito com o significado da sua existência. Trata-se de promover o confronto e a re-avaliação da compreensão que o mesmo tem da vida, dos problemas que tem enfrentado e dos limites impostos pelo seu estar-no-mundo. O foco é a procura de sentido que permite o auto-conhecimento, enquanto tudo o que o sujeito é capaz de vir a ser. Procurar o significado numa lógica de ação criadora, que é uma lógica de liberdade, a procura de sentido autêntico para sua vida. (Revista Psicol. Argum./Instituto Superior de Psicologia Aplicada)
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